Depressão silenciosa.
Não é fácil falar...não é. Não é fácil estar aqui a escrever-vos de algo que considerei uma fraqueza. Mas decidi que um dia haveria de partilhar esta experiência aqui no blogue, para que outras pessoas, como vocês, leitores, ou algum amigo ou familiar vosso, que esteja a passar pelo o mesmo, saiba que há soluções com "finais felizes".
Para começar, nada vem ao acaso, e tudo tem uma razão de existir. Por mais que pareça demasiadamente oculta, ela está lá. Ela: a razão ou razões.
Em 2015 falei-vos noutro post sobre Baby blues, depressão pós-parto e yoga... e mais tarde sobre Após depressão pós-parto: O Desmame... . Convido-vos a ler ambos os post's.
Não são fáceis para mim de reler e reviver, ainda para mais, quando julgava que este ultimo ser o término da minha relação com ansiedade e depressão. Estava completamente enganada.
Nesse mesmo final de ano começou o desmame à medicação da depressão pós parto. Eu sentia-me óptima, a meu entender, por isso não havia mais razões para continuar a tomar aquilo que eu apelidava de "droga".
Posso-vos dizer que foi o maior erro na minha vida, querer ser livre de algo que eu ainda não era, e que não estava preparada para viver sem ajuda.
No Verão de 2016, e como vêm não passou assim tanto tempo desde o desmame, surgiram os primeiros sinais de recaída, ou melhor dizendo, de que afinal eu não deveria ter feito desmame da medicação sem estar realmente BEM.
Iniciaram-se as fobias sociais, a taquicardia, os ataques de pânico, enfim...eu tinha tudo menos depressão. Tanto é que cheguei ir ao médico de família a considerar que tinha problemas de coração.
Estas eram as desculpas que eu dava a mim mesma.
Em Outubro do mesmo ano, tive um choque emocional ao saber que por duas vezes o meu pai entrou nos cuidados intensivos, a um milímetro de deixar-nos. Mas Graças a Deus, dentro dos possíveis, está connosco.
Durante um par de meses a seguir a isto, eu vivia a pensar na vida, a imaginar os "se's", a esquecer de mim, a descuidar-me, a ausentar-me, a aumentar os meus medos, as minhas crises de ansiedade...até que dei conta, que já nada me fazia querer estar aqui, a não ser a minha filha.
No entanto, até nisso, eu conseguia ponderar se ela realmente precisava de mim. E mais não digo, porque como devem calcular, sabem o que eu achava sobre estar neste Mundo.
A família via que algo não estava certo. Mas eles não sabiam tudo o que ia na minha cabeça. E peço-vos que tenham atenção, porque por vezes a depressão é tão silenciosa que não deixa passar o quão grave é o estado de risco de saúde e até mesmo de vida.
Mais uma vez, eu tenho que agradecer a DEUS, por ter conseguido, no meio da "tempestade" que ia na minha cabeça, consciência de que precisava de ajuda.
Não consegui ir imediatamente ao médico de família.
Eu ponderei tudo.
O que eu tinha? Porque me sentia assim? Será que estava mesmo com depressão? Ou seria eu, a ser eu mesma?
Mas será que a Soraia não queria mesmo viver? Etc...
Na outra ponta da questão, a Soraia que eu conhecia anteriormente e que conheço hoje em dia, adora rir, viver, ajudar o próximo, a família, a natureza, é vaidosa, e vaidosa com a sua filha. Então, todas estas questões não faziam sentido.
Foi ai que decidi, vou pedir ajuda. Isto a meio de Novembro.
E assim foi. Pedi ajuda, fui ouvida, parabendizada por ter tido coragem de pedir ajuda,e fui ajudada com garra dos profissionais de saúde.
Sim, eu tive e tenho uma GRANDE MÉDICA de família, que soube ouvir-me, cuidar e vigiar, com todo o cuidado, sem sentir que era mais uma paciente.
Sentir confiança na profissional de saúde, também ajudou à minha recuperação. E claro, mais uma vez a medicação.
Desta vez já não lhe chamo "droga", porque ela não é isso, mas sim foi o que me manteve cá e curou-me.
Apesar que estou a fazer o tratamento há quase um ano, e ter outras ambições para a minha vida que estão condicionadas pela minha saúde, não vou passar à fase seguinte, o desmame, sem sentir mesmo com confiança, e que é altura certa.
Como estou hoje?
Bem, normal, a sentir-me Soraia. A reconhecer o que sou e a minha essência.
Só isto já diz tudo sobre, o que sou hoje e o que não era há um ano atrás.
Tenho muito para vos contar, sobre esta luta que poucos são os que a entendem e muitos os que desconsideram.
Podia-vos falar do que me disseram em momentos que precisava de um ombro ao contrário de palavras duras.
Podia-vos falar de como foi duro a minha adaptação, como foi satisfatória a recuperação.
O quão silenciosa foi esta depressão que poucos ou raros foram os que se aperceberam.
Com quantos amigos pude contar e quantos ficaram?
Quem me deu a mão, quem a largou? E o mais importante, que lição tirei desta experiência.
Mas todas estas questões ficam para outra altura.
Queria-vos apenas dizer, que nunca fiz questão de dizer que tinha depressão. Nem que estava medicada. Só sabiam mesmo, por alguma questão tipo: "Se gostas tanto de ser Mãe, porque não vais ao segundo?", e mesmo assim eu fugia nas entre linhas.
Hoje, passado um ano já aceitei e falo, talvez por que a vejo lá no fundo do "caixote do lixo", quase a ser jogada ao "contentor", e eu a sorrir de felicidade, e a pensar CONSEGUI.
Aos que estão a passar por situações semelhantes, não descuidem a vossa saúde, peçam ajuda. Não somos obrigados a suportar tudo só porque o outro consegue. A verdade é que também não sabemos o que lá vai. E cada um é cada qual.
Algo, podem partilhar aqui em baixo.